Morte Encefálica: Conceitos Essenciais, Diagnóstico e Atualização

A morte encefálica representa o estado clínico irreversível em que as funções cerebrais (telencéfalo e diencéfalo) e do tronco encefálico estão irremediavelmente comprometidas. São necessários três pré-requisitos para definila: coma com causa conhecida e irreversível; ausência de hipotermia, hipotensão ou distúrbio metabólico grave; exclusão de intoxicação exógena ou efeito de medicamentos psicotrópicos. Baseia-se na presença concomitante de coma sem resposta ao estímulo externo, inexistência de reflexos do tronco encefálico e apneia.

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Morte Encefálica: A morte encefálica representa o estado clínico irreversível em que as funções cerebrais (telencéfalo e diencéfalo) e do tronco encefálico estão irremediavelmente comprometidas.

Morte Encefálica

São necessários três pré-requisitos para definila: coma com causa conhecida e irreversível;

  • ausência de hipotermia,
  • hipotensão ou distúrbio metabólico grave;
  • exclusão de intoxicação exógena ou efeito de medicamentos psicotrópicos.

Baseia-se na presença concomitante de coma sem resposta ao estímulo externo, inexistência de reflexos do tronco Encefálico e Apneia.

O diagnóstico é estabelecido após dois exames clínicos, com intervalo de no mínimo seis horas entre eles, realizados por profissionais diferentes e não vinculados à equipe de transplantes. É obrigatória a comprovação, por intermédio de exames complementares, de ausência no sistema nervoso central de perfusão ou atividade elétrica ou metabolismo. Morte encefálica significa morte tanto legal quanto cientificamente.

É necessário que todo profissional de saúde, especialmente o médico, esteja familiarizado com o conceito de morte encefálica, para que a aplicação da tecnologia na sustentação da vida seja benéfica, individual e socialmente comprometida, e não apenas promovedora de intervenção inadequada, extensão do sofrimento e angústia familiar e prolongamento inútil e artificial da vida.

O surgimento do método científico observacional e a sua utilização na construção racional da explicação médica do ethos (meio), da vitae (vida) e, consequentemente, do fim do meio e da vida (morte) foram essenciais e marcantes no desenvolvimento da ciência ocidental.

Doppler Rranscraniano

O Doppler Transcraniano vem sendo cada vez mais utilizado no diagnóstico de ME.

Apresenta sensibilidade de 94 a 99% e especificidade de 100%. Utiliza-se um transdutor de 2 Hz pulsátil com insolação das artérias carótidas intra e extracranianas e da basilar.

Em 10% dos pacientes o exame é impossível de ser realizado devido a janela óssea incompatível. O achado mais específico de ME é a reverberação de fluxo no nível das carótidas intracranianas.

Essa herança helênica permanece na concepção do real e do possível.

A mesma explicação simples (mapa cerebral), autonômica, simpática e aristotélica, que atrelava as emoções humanas a um músculo involuntário torácico, continua hoje enraizada no conceito de morte, definida pela cessação das funções cardiopulmonares.

O conhecimento fisiopatológico atual, entretanto, assegura que a morte somente pode ser determinada quando ocorre lesão irremediável do encéfalo.

A maioria das pessoas entende a ausência de incursões ventilatórias pulmonares ou de batimentos cardíacos, de forma cartesiana, como a iminência da morte. Porém, o que nos faz humanos é a atividade vigorosa e incessante de trilhões de neurônios localizados no encéfalo. Logicamente, a cessação irreversível dessa atividade encefálica determina a morte humana.

A ventilação mecânica, instituída desde os anos 50, associada ao suporte básico e avançado de vida, permitiu abordagem capaz de expandir os cuidados aos pacientes graves. Nesse novo e fascinante contexto de suporte da vida surgiu uma condição clínica inédita: pacientes com encéfalo irremediavelmente comprometido ainda mantinham preservadas suas principais funções hemodinâmicas e ventilatórias, exclusivamente devido à intervenção da tecnologia médica. Como diferenciar esses pacientes daqueles vítimas de grave dano cerebral, entretanto, com possibilidade de alguma recuperação neurológica?

Eletroencefalografia

O eletroencefalograma foi o primeiro método usado para corroborar o diagnóstico de ME e até hoje é o mais usado, tanto em nosso meio quanto no mundo.2 Deve ser realizado com pelo menos oito derivações com impedância entre 100 e 10.000 Ω, sensibilidade de ao menos 2 µV e duração mínima de 30 minutos. É compatível com o diagnóstico de ME quando mostra silêncio isoelétrico.18,26

Em caso de atividade elétrica ou dúvidas quanto à qualidade técnica, é prudente aguardar seis horas para a realização de novo EEG. Optando por outro exame complementar, este poderá ser realizado imediatamente.18,26

O adequado treinamento na percepção dos sinais semióticos da disfunção irreversível do sistema nervoso central – a morte encefálica – pode modificar a abordagem a esses pacientes. O reconhecimento da finitude da vida significa, naturalmente, o término de todas as medidas técnicas e tecnológicas aplicadas em sua sustentação. Isto representa redução da distanásia, da angústia que envolve os familiares dos pacientes nessa situação, de gastos com recursos aplicados indevidamente na manutenção artificial da vida, além de possibilitar o aumento da doação humanitária de órgãos e tecidos para as pessoas que aguardam nas intermináveis filas por novo órgão.

É necessário qualificar examinadores médicos para que estejam atentos, atualizados e, com base em critérios amplamente discutidos e uniformizados, possam prover informação adequada e atual para a sociedade e para os diversos profissionais da área de saúde, expondo um novo conceito de tamanha importância, como é o da morte encefálica (ME).

A ME é a constatação irremediável e irreversível da lesão central nervosa e significa morte, seja clínica, legal e/ou social.