exame de doppler transcraniano

Exame de Doppler Transcraniano: Saiba Mais

Por Médico de Doppler Transcraniano   •   30 de novembro de 2025


A ameaça silenciosa das doenças cerebrovasculares paira sobre a vida moderna, podendo roubar a lucidez, a memória e a independência em um piscar de olhos. O pensamento de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou de uma hemorragia pode gerar uma ansiedade profunda, pois o cérebro, nosso centro de comando, parece inacessível. Mas e se existisse uma tecnologia que lhe oferecesse um olhar direto e desimpedido para a saúde exata das suas artérias cerebrais, sem dor, sem radiação e sem agulhas? Essa solução já existe e é o Exame de Doppler Transcraniano (DTC). Ele se caracteriza por ser um exame indolor, rápido e não invasivo, cujo procedimento consiste em um sistema de transmissão pulsada de ondas de ultrassonografia com baixa frequência, próximo à região que será examinada.

Continue a leitura desse texto para entender como é feito o exame, assim como suas indicações, os segredos de sua tecnologia e, sobretudo, a imensa segurança que ele oferece a quem busca a prevenção e o diagnóstico preciso

O exame de Doppler Transcraniano (ou Ultrassom Transcraniano) caracteriza-se por ser um exame indolor, rápido e não invasivo, cujo procedimento consiste em um sistema de transmissão pulsada de ondas de ultrassonografia com baixa frequência, próximo à região que será examinada.

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Continue a leitura desse texto para entender como é feito o exame, assim como suas indicações, entre outros.

O Exame de Doppler Transcraniano

O Exame de Doppler Transcraniano serve para avaliar a função cerebrovascular em tempo real, de modo que é capaz de medir a velocidade e as mudanças do fluxo sanguíneo nas artérias basais do cérebro. Este exame é uma verdadeira fotografia dinâmica da circulação.

A sua utilidade vai muito além de uma simples imagem. Ele pode diagnosticar doenças como a estenose vascular focal (estreitamento das artérias) ou encontrar sinais de embolia no interior das artérias, revelando fragmentos que estão viajando e ameaçando causar uma obstrução.

Além disso, o Doppler também é capaz de avaliar se a saúde fisiológica de um território vascular está em dia, através de medições de alterações na pressão arterial, no nível de $\text{CO}_2$ (dióxido de carbono, um potente regulador do fluxo sanguíneo), ou durante a ativação cognitiva e motora. Essa capacidade de monitorar a reserva funcional cerebral é o que o eleva de um simples exame de imagem a uma ferramenta de avaliação funcional avançada.

Como Funciona o Exame de Doppler Transcraniano?

O nome Doppler Transcraniano surgiu com base no princípio do Efeito Doppler, no qual as ondas de ultrassom emitidas atravessam o crânio e são refletidas pela movimentação dos glóbulos vermelhos que ocorre dentro dos vasos intracerebrais. É o movimento das células sanguíneas que dá vida aos dados.

A “frequência do desvio Doppler” classifica-se pela diferença na frequência entre as ondas emitidas e refletidas, que são diretamente proporcionais à velocidade do fluxo sanguíneo. Esta avaliação é utilizada para obter dados acerca da velocidade do fluxo sanguíneo, assim como outras características do fluxo dentro dos vasos sanguíneos. Para o leigo, é como ter um radar de velocidade instalado dentro da cabeça, que mede o tráfego nas “estradas” cerebrais. Se o tráfego está lento demais ou rápido demais, o examinador sabe que há um problema.

exame de doppler transcraniano

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Indicações do Exame de Doppler Transcraniano

Este exame tem a função de verificar a estrutura vascular cerebral quando há suspeita de problemas graves. Sua indicação é vasta e abrange desde a prevenção até o monitoramento em unidades de terapia intensiva:

  • Suspeita de estreitamento das artérias basais (estenose): Focado na prevenção de AVC.

  • Suspeita de hipertensão intracraniana e de morte encefálica: Fundamental no ambiente de terapia intensiva.

  • Identificação de sintomas: Tonturas, vertigens, síncopes (desmaios) podem ter causas vasculares que o DTC consegue mapear.

  • Diagnóstico e Monitoramento de doenças cerebrovasculares:

    • Acidente Vascular Cerebral Isquêmico Agudo (para identificar a causa).

    • Vasoespasmos após Hemorragia Subaracnóidea (uma aplicação salva-vidas que detalharemos adiante).

    • Anemia Falciforme (para estratificação de risco em crianças).

    • Embolia Paradoxal (detecção de êmbolos que atravessam o coração).

Este método é cada vez mais indicado e aplicado em diferentes áreas, e as pesquisas com ele estão sempre em expansão, consolidando-o como uma ferramenta insubstituível na Neurologia.

Realização do Exame de Doppler Transcraniano

Diferente do que acreditavam até o fim da década de 80, as ondas emitidas durante o ultrassom têm a capacidade de ultrapassar o crânio em sua integridade. Por este motivo, o exame também serve para analisar a circulação sanguínea dos vasos intracranianos.

O procedimento, já detalhado, consiste em aplicar um gel nas têmporas, acima dos olhos, e na parte posterior do pescoço do paciente (que deve se encontrar sentado ou deitado). O aparelho de ultrassom é colocado nessas mesmas regiões. Mas por que esses locais específicos?

As Três Portas de Entrada para o Cérebro

Apesar de o ultrassom conseguir penetrar o osso, ele o faz com dificuldade. O examinador treinado busca as três “janelas acústicas” onde o osso é mais fino ou tem aberturas naturais, garantindo a qualidade do sinal:

  1. Janela Temporal (Têmporas): Permite a visualização das Artérias Cerebrais Média, Anterior e Posterior – as grandes responsáveis pela irrigação da maior parte do cérebro. É a janela mais importante para a detecção de estenoses e embolia.

  2. Janela Transorbital (Acima do Olho): Utilizando-se potências ultrassônicas extremamente baixas (totalmente seguras), permite-se o acesso ao Sifão Carotídeo e à Artéria Oftálmica.

  3. Janela Transnucal (Nuca/Posterior do Pescoço): Essa janela permite a análise da Artéria Basilar e das porções intracranianas das Artérias Vertebrais, essenciais para a irrigação do tronco encefálico e do cerebelo.

Em circunstâncias normais, o exame consegue visualizar estruturas encefálicas, como o mesencéfalo, os núcleos da base, tálamos e segmentos do sistema ventricular. A grande vantagem é que o Doppler Transcraniano pode ser repetido quantas vezes forem necessárias, sem causar nenhum risco à saúde do paciente. As únicas recomendações são a remoção de lentes de contato, brincos e acessórios metálicos antes do exame, que podem interferir na qualidade do sinal.

A Profundidade do Diagnóstico: Por Que o DTC é Insignificante

A simplicidade do procedimento contrasta com a profundidade e a complexidade das informações que ele fornece.

1. O Vasoespasmo Pós-Aneurisma: O Papel Salva-Vidas

Uma das aplicações mais urgentes e cruciais do DTC é no monitoramento de pacientes que sofreram Hemorragia Subaracnóidea (HSA), frequentemente causada pelo rompimento de um aneurisma. Após o sangramento, o corpo pode desenvolver uma complicação grave chamada Vasoespasmo – o estreitamento das artérias cerebrais.

  • Monitoramento Diário: O DTC permite que o médico na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) monitore diariamente as velocidades de fluxo.

  • O Alerta: Um aumento significativo e progressivo na velocidade do sangue, especialmente nas Artérias Cerebrais Médias, é o sinal de alerta precoce de que o vasoespasmo está se instalando.

  • A Ação: Essa informação vital permite que a equipe médica aja imediatamente, ajustando a pressão arterial ou administrando medicamentos para dilatar os vasos, prevenindo um infarto cerebral secundário e devastador. É um diferencial de tratamento que garante uma chance real de recuperação neurológica para o paciente.

2. Rastreamento Pediátrico na Anemia Falciforme

Em crianças com Anemia Falciforme, uma doença genética que deforma as células vermelhas do sangue, o risco de AVC é alto. O DTC é o método de rastreamento de escolha para identificar quais crianças estão em maior risco.

  • Se o exame mostrar velocidades de fluxo cronicamente elevadas, isso indica que as artérias estão ficando estreitas devido à doença.

  • Essa detecção precoce permite que a criança inicie um programa de transfusões sanguíneas regulares, que comprovadamente reduz o risco de AVC em mais de 90%. Este é um exemplo poderoso de como o exame, que é totalmente inofensivo, transforma a vida e o futuro de um paciente.

3. Hipertensão Intracraniana (HIC) e a Linguagem dos Fluxos

Em casos de HIC grave, o aumento da pressão dentro do crânio pode espremer os vasos sanguíneos, dificultando a chegada de sangue ao cérebro.

O DTC consegue ver essa mudança:

  • Índice de Pulsatilidade (IP): O médico calcula um valor chamado Índice de Pulsatilidade (que mede a diferença entre a velocidade máxima e a mínima do fluxo). Um IP elevado indica alta resistência ou pressão externa excessiva (HIC).

  • Fluxo Oscilante ou Revertido: Nos casos mais graves, o fluxo pode se tornar oscilante (indo e voltando) ou, até mesmo, reverter o seu sentido durante a diástole. Esses padrões são dramaticamente anormais e são usados como fortes indicadores da gravidade da HIC e no diagnóstico de morte encefálica.